Realização do Círio ainda gera dúvidas. Arquidiocese deve respondê-las na quinta-feira
O anúncio oficial sobre a realização do Círio 2020 será dado nesta semana
Na quinta-feira (6), os paraenses e público em geral devem receber da Arquidiocese de Belém, junto à Diretoria da Festa de Nazaré, o anúncio oficial sobre a realização do Círio 2020. Como já foi divulgado pela Diretoria, “o anúncio será feito pelo arcebispo de Belém, após parecer técnico-científico da Comissão Especial de Análise da Pandemia da Covid-19, instituída para orientar a decisão sobre o Círio 2020”. Desde que se constatou o impacto do novo coronavírus na vida das pessoas, algumas perguntas ficaram no ar: Haverá Círio este ano? Como e quando será? Presencial ou virtual?
Por isso, o que não falta é devoto aguardando pelo momento decisivo do dia 6. É o caso de Fábia Cardoso, 46 anos, uma paraense com uma relação especial com eventos da quadra nazarena. Até 2019, ela atuava como inspetora da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e tinha participação na organização de romarias.
“Todos os anos fazemos o Traslado, saindo na sexta da Basílica para a procissão rodoviária até Ananindeua, mais ou menos 40 km e 10 a 12 horas de duração… No sábado, às 5h, já estamos da Igreja Matriz de Ananindeua para levar a imagem até Icoaraci . E lá ainda fazíamos a Moto romaria de que até quatro anos atrás eu ainda participava. Quando tudo acabava, eu ia me preparar para, agora, como promesseira, ir na corda na Trasladação”, conta Fábia.
A devota informa que, na PRF, atuava como um dos batedores da imagem. “Tive a honra de, por mais de 20 anos, ir dirigindo ao lado a viatura que levava Nossa Senhora”, revela. Na Trasladação, Fábia acompanha na corda, sempre no mesmo lugar, a cabeça da corda, cumprindo promessa.
Fábia conta que há três anos um filho dela, então com sete anos de idade, pegou uma descarga elétrica e teve uma parada cardíaca. Ela se pegou com Nossa Senhora e, desde que o filho ficou bom sem nenhuma sequela, “venho como promesseira para agradecer todas as bençãos”.
“Sobre o Círio 2020, penso que poderia ser adiado. Não consigo ainda imaginar este ano sem o Círio presencial. Mas só Deus pode dar essa resposta; se tiver que ser virtual pelo bem das pessoas, temos que nos acostumar. Estaremos todos em casa”, arrematou.
Não seria prudente
Para a infectologista e professora Marília Brasil, não seria prudente a realização presencial do Círio, por causa do alto risco de contaminação das pessoas em aglomeração. Marília destaca que o Círio é um dos maiores eventos de concentração de pessoas no País, provenientes, inclusive, de outros estados e do interior do Pará, reunindo-se por vários dias em Belém. “É um evento belíssimo, em que Nossa Senhora é honrada, é homenageada. Mas nós estamos numa situação difícil, de pandemia, em que ainda temos no Pará e em Belém um número alto de suscetíveis (pessoas que podem ainda adoecer com a covid-19)”.
A professora destaca que, apesar de se saber que existem outros tipos de imunidade, o Pará tem 152 mil casos e subnotificações, e, nesse caso, muito mais pessoas podem estar infectadas e recuperadas. Porém, como observa a infectologista, ainda existem muito suscetíveis. “É um evento que vai reunir pessoas suscetíveis e num cenário em que ainda temos casos acontecendo tanto no interior do Estado quanto na capital”, pontua.
Em Belém, o registro é de cerca de 25 mil casos notificados. Este número não leva em conta a subnotificação, o que faz crer que se tenha mais casos de pessoas infectadas. Mas, ainda assim, em uma população de quase um milhão e meio há pessoas que não foram infectadas e que podem vir a contrair a doença a partir de aglomerações. “Então, temos um grande número de suscetíveis, quer dizer, o risco é muito grande”, assinala.
A professora Marília Brasil destaca que se houver Círio presencial teria de ser em uma forma muito restritiva, o que se mostra muito difícil, porque seria necessário restringir a participação de crianças e pessoas idosas, por exemplo.