Novela terá beijo entre homem trans e mulher cisgênero
Por: Villian Nunes
Um dia após a data em que é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, comemorado anualmente em 28 de junho, a comunidade conquista mais uma vitória por respeito, inclusão e diversidade.
Pela primeira vez, uma novela terá beijo entre um homem trans e uma mulher cisgênero. O ator, Bernardo de Assis, de “Salve-se quem puder”, comemora a “cena revolucionária” e celebra o fato de estar fazendo história já em sua estreia na TV.
Nascido em Madureira e criado em Inhaúma, Zona Norte do Rio, Bernardo tem 26 anos, é carioca e iniciou sua transição de gênero há cinco anos. Sem referências de pessoas trans durante sua infância e adolescência, ele conta que se sentia incomodado com o corpo e com algumas ideias.
Apesar da sociedade lhe enxergar “como lésbica, mas, quando uma namorada me olhava como mulher, eu negava ser uma. Era como se o meu quebra-cabeça estivesse embaralhado. Aos 15, escutando as palestras e lendo os livros do João W. Nery (psicólogo e ativista LGBTQIAP+), percebi que o sofrimento dele era igual ao meu. E que havia um nome para tudo aquilo (transexualidade)”.
E foi durante um trabalho no teatro, em 2015, que ele se assumiu após ser convidado pela diretora Livs Ataíde, para interpretar uma garota que tinha um desejo tão grande de ser homem, que no dia seguinte ela se transformava em um; e depois em pássaro e em tudo o mais que ela quisesse.
O ator lembra que “nos ensaios, eu dizia: ‘Não consigo falar esse texto, é muito pesado pra mim, só quero chorar’. Depois de alguns meses, a peça estreou comigo assinando como Bernardo. Tomei a decisão de me identificar como homem trans para o mundo e cobrar respeito das pessoas”.
Na família, o ator conta que passou por grandes dificuldades e que perdeu o vínculo familiar. “Nunca tive muito diálogo com meus pais. Minha mãe escolhia as minhas roupas, me forçava a ser o mais feminino possível, a manter o cabelo longo. Numa viagem, eu decidi cortá-lo e fiz uma foto. Ela me mandou uma mensagem dizendo que eu não precisava mais voltar. Meu pai de criação decidiu não se intrometer na decisão dela; com o biológico, nunca tive contato. Então, deixei tudo pra trás. Um casal de tios me acolheu como filho, construí uma nova família com amigos como eu. Há pouco tempo, retomei contato com a minha irmã. Ela também tinha seus preconceitos e dores, mas se abriu, ressignificou tudo. Agora, assiste a todos os capítulos da novela e torce por mim”, revela ele.
Bernardo iniciou a transição em 2016, aos 21 anos, tomando hormônios. Um ano depois, fez a mastectomia, porque os seios sempre incomodavam muito. Hoje, ele e muitos transgêneros celebram juntos essa representatividade.
A CENA
Uma amizade colorida tem livrado Renatinha (Juliana Alves) do posicionamento maldoso e da falta de amor-próprio em “Salve-se quem puder”: Catatau (Bernardo de Assis) fez com que a colega de trabalho deixasse de mendigar a atenção do ex-namorado Rafael (Bruno Ferrari) e se sentisse valorizada com suas cantadas e elogios. Primeiramente, o estagiário da Labrador conquistou o respeito da secretária, ao se autoafirmar um homem transgênero, com muito orgulho. Agora, na reta final da novela das sete, já ficou claro que conquistou também o coração dela.
A paixão entre Renatinha e Catatau continuará esquentando, até explodir no capítulo previsto para ir ao ar no dia 14 de julho com um beijão de calar o preconceito dos ex-colegas de ginástica artística dele. “Chega! Ninguém mexe com o meu macho!”, dirá ela.