Verão atrai retorno de trabalhadores informais às praias e balneários

Verão atrai retorno de trabalhadores informais às praias e balneários

Para as seis mil pessoas que ficaram desempregadas entre março e maio, mercado informal é a saída.

A chegada do verão paraense traz esperança de ocupação e oportunidade de renda para cerca de seis mil pessoas que ficaram desempregadas em Belém nos meses de março, abril e maio, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O mercado informal é o destino de quem precisa encontrar uma forma de pagar aluguel e alimentar a família.

O comércio nas praias e balneários, como Mosqueiro, Outeiro e Salinas, é, portanto, uma forma de disputar clientela com produtos típicos do período, como bebidas geladas e acessórios de proteção solar. As restrições ainda impostas pela pandemia do novo coronavírus, no entanto, trazem empecilhos para os trabalhadores.

Com 30 anos de trabalho em Salinas, o vendedor Raimundo Freitas conta que durante os primeiros meses do ano, em razão da covid-19, precisou se sustentar trabalhando em um pequeno comércio que construiu em sua casa. Da porta da residência, passou a vender alimentos, refrigerantes, água e cerveja. Assim foi possível sustentar a família, principalmente durante o período em que a circulação de pessoas em Salinas foi reduzida devido ao isolamento social.

Com a chegada do verão, porém, e o retorno de banhistas ao município, o autônomo pode retornar para a atividade que o manteve nas últimas décadas: a venda de água de coco na praia do Atalaia. O produto, que segundo Seu Raimundo não “sai de moda” em julho e em feriados, foi responsável pela criação dos nove filhos dele. “A água de coco sempre será procurada, já que refresca e é a cara de praia e verão. Estou muito feliz de poder voltar a trabalhar aqui. É claro que o retorno vai ser lento, as pessoas ainda estão receosas em relação ao vírus, mas acho que, tomando cuidado, as nossas vendas serão muito boas. A chegada da alta temporada está sendo um alívio para nós, que vivemos disso há tantos anos. Somos as pessoas que mais precisam”, afirma.

Com a venda de cada unidade a quatro reais, o comerciante avalia que os vendedores precisam sempre pensar, com paciência, sobre quais serão os itens que terão “mais saída” em cada período do ano. “Para trabalhar na praia, a venda de água de coco sempre será uma boa opção. E também nos dias em que os clientes podem ter folga e vir para cá. Mas, com a pandemia, todos sabem que as praias foram fechadas e não foi possível trabalhar. Então me organizei para vender outras bebidas, alimentos, e sobreviver. A gente precisa ir atrás e entender que em cada momento podemos encontrar uma oportunidade. Graças a Deus, as coisas estão melhorando”, comemora.

Leandra Ferreira e Maria Ferreira, vendedoras e moradoras de Salinas, mãe e filha, voltaram a trabalhar na praia do Atalaia com a venda de chapéus, viseiras e artesanato. A reportagem falou com elas no último domingo (12) Segundo elas, a pandemia fez com que as vendas caíssem ao longo do ano, mas insistiram na venda dos produtos mesmo com as políticas de isolamento social.

“Continuamos com os chapéus, que vendemos há muitos anos. Mas só agora, com a reabertura da praia e a volta das pessoas, que a vendo passou a melhorar. Na última semana e neste fim de semana o movimento foi intenso. Esperamos que melhore ainda mais, mesmo que o horário de funcionamento da praia ainda esteja limitado, de 7h às 19h”, diz Maria. Dona Leandra Ferreira critica, no entanto, a ausência do uso de máscaras entre os banhistas, sendo vista com frequência apenas em trabalhadores do local. “As pessoas dizem que não usam a máscara porque fica a marca do sol no rosto. Eu prefiro ficar marca de sol do que pegar a doença”, afirma.

Dieese

O economista Roberto Sena, supervisor técnico das pesquisas do Dieese, afirma que o número de 6 mil novos desempregados em Belém, no último trimestre, aliado ao contingente de 229 mil pessoas no mercado informal na capital paraense, são dados que apontam crescimento de possíveis vendedores nas praias e balneários. No entanto, segundo ele, nem todos conseguirão atingir o destino almejado para oferecer as mercadorias e obter renda.

“A maioria dos vendedores nas praias são de pessoas nativas do local. Mais isso ainda poderá ser mais acentuada este ano, já que ainda existem limitações para os vendedores, como a proibição de ônibus de piquenique. O número, em média, de 30 mil vendedores nas praias deve cair, portanto, como consequência das restrições”, informa.

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