Brasil tem protagonismo feminino pela primeira vez
O país conquistou 10 medalhas e as mulheres correspondem por 50% das conquistas do Time Brasil
Antes das Olimpíadas de Tóquio, havia a expectativa de que a delegação feminina brasileira fosse maior do que a masculina pela primeira vez na história. Não aconteceu, mas nunca antes as mulheres foram tão protagonistas na campanha do Time Brasil.
Após o 12º dia de eventos oficiais dos Jogos -algumas competições tiveram início ainda antes da cerimônia de abertura-, as mulheres respondem por 50% das conquistas da delegação brasileira. É a mais alta participação feminina em toda a história olímpica brasileira.
Até agora, as brasileiras já subiram cinco vezes no pódio, com 1 ouro, 2 pratas e 2 bronzes. Os homens também conquistaram cinco medalhas, mas com desempenho inferior (1 ouro, 1 prata e 3 bronzes).
Segundo levantamento da Folha, antes de Tóquio, a melhor participação feminina havia sido nos Jogos do Rio-2016, quando elas foram responsáveis por 33,3% das medalhas nos 12 primeiros dias de competição.
A boa campanha até aqui projeta um patamar inédito para as atletas na campanha do país em uma edição dos Jogos Olímpicos. Por ora, o recorde é de Pequim-2008, edição com pódios marcantes, como o título de Maurren Maggi no salto em distância ou o primeiro ouro olímpico da seleção feminina de vôlei. Lá, elas foram responsáveis por 41,2% das medalhas nacionais.
É preciso lembrar que o esporte feminino demorou a receber apoio no Brasil. A primeira equipe olímpica do país, nos Jogos da Antuérpia, em 1920, não contou com nenhuma mulher, e a primeira participação de uma atleta olímpica brasileira, a nadadora Maria Lenk, só veio a ocorrer em Los Angeles-1932.
Por fim, a prática de algumas modalidades em que hoje o Brasil briga por medalha, como futebol e judô, chegou a ser proibida para as mulheres durante décadas. Com tantas dificuldades, as brasileiras só foram estrear no pódio olímpico nos Jogos de Atlanta, em 1996, quando ganharam 1 ouro (vôlei de praia), 2 pratas (basquete e vôlei de praia) e 1 bronze (vôlei). Desde então, elas têm conquistado mais espaço no Time Brasil. É o que se vê em Tóquio. Todas as medalhas obtidas por mulheres até aqui vieram acompanhadas de alguma marca significativa para a história do esporte olímpico brasileiro.
Neste domingo (1º), Rebeca Andrade, 22, tornou-se a primeira brasileira campeã olímpica na ginástica artística ao vencer a prova de salto. Na última quinta-feira (29), ela já havia se tornado a primeira brasileira medalhista da modalidade após ganhar a prata no individual geral. Ela também se tornou a primeira atleta do país, entre homens e mulheres, a subir no pódio na duríssima prova que mede o ginasta mais completo do planeta e conta pontuação nos quatro aparelhos da ginástica (salto, solo, trave e barras assimétricas).
As façanhas não ficaram só no tablado. No dojô, Mayra Aguiar ganhou, na última quinta-feira (29), um bronze improvável, já que seu desempenho em Tóquio era uma incógnita. A brasileira, que na carreira passou por sete cirurgias no joelho, ficou 16 meses sem lutar entre 2020 e 2021. Mas, ao derrotar a sul-coreana Yoon Hyun-ji, no histórico ginásio Nippon Budokan, principal palco do judô, garantiu sua medalha.
Mayra se tornou a única judoca brasileira, novamente entre homens e mulheres, a subir ao pódio em três Olimpíadas seguidas. Ela já tinha sido bronze em Londres-2012 e Rio-2016. Rafael Silva, o Baby, que poderia igualá-la, não conseguiu repetir o desempenho e acabou eliminado da disputa por medalhas.
Outro pódio bastante comemorado foi o de Rayssa Leal, no skate street. Não bastasse ser a atleta mais jovem da história do Brasil em Olimpíadas, a maranhense também se tornou a mais jovem medalhista, aos 13 anos, ao conquistar a prata na estreia do skate em Olimpíadas.
Outra medalha histórica aconteceu no tênis. Laura Pigossi e Luisa Stefani conquistaram o bronze ao baterem as russas Veronika Kudermetova e Elena Vesnina, vice-campeãs de Wimbledon, por 2 sets a 1, em uma virada espetacular. Foi a primeira medalha do Brasil no tênis em Olimpíadas.
O feito é ainda mais extraordinário porque as brasileiras descobriram de última hora que haviam conquistado a vaga para disputar as Olimpíadas. Eduardo Frick, gerente da Confederação Brasileira de Tênis, inscreveu as duas na lista de espera para uma vaga em Tóquio-2020. Luisa ocupa a 23ª posição do ranking mundial de duplas, enquanto Pigossi, na 188ª colocação, é a segunda melhor do Brasil.
No circuito internacional, as paulistanas, que são amigas de infância, não jogam juntas. “Quando a gente recebeu a notícia de que tínhamos entrado, ficamos histéricas, falei que as últimas seriam as primeiras”, contou Laura. Nas quadras de Tóquio, a profecia, em parte, foi realizada. Ficaram com o bronze.