Investigação da Polícia Civil do Rio afirma que sistema de registro de jogadores da CBF pode ser fraudado
Por: Villian Nunes
Uma investigação da Delegacia de Defraudações do Rio de Janeiro coloca em suspeita a segurança do sistema de registros de jogadores da CBF, o BID. De acordo com o informe feito pela investigação, uma perícia realizada pelo Departamento de Polícia Técnico-Científico da Chefia da Polícia Civil concluiu que “o sistema da CBF pode ter dados apagados e alterados”.
Essa informação consta de um documento produzido há três semanas, no dia 6 de junho, pelo inspetor Roberto Nogueira Alves. O documento, intitulado “informação sobre investigação”, é uma resposta a questionamentos feitos pelo Tribunal de Justiça do Ceará, que julga uma ação envolvendo a transferência de um jogador em 2016.
Em nota enviada à reportagem, a CBF nega a possibilidade de fraude no BID (Boletim Informativo Diário) e contesta o documento da Polícia Civil do Rio. De acordo com a entidade, o informe da Delegacia de Defraudações parte de premissa equivocada. Leia a nota completa ao final da reportagem.
Time envolvido é da família de vice da CBF
Desde 2016, o Palmácia, clube licenciado da Federação Cearense, quer receber uma indenização de 6 milhões de euros (cerca de R$ 35 milhões) pela transferência do jogador Bismark para o Najran, da Arábia Saudita.
Porém, antes da transferência, houve uma decisão judicial que suspendeu o contrato do jogador, que terminaria em 2018. Advogados do Palmácia alegam que a suspensão do contrato não significava sua rescisão. Na decisão, de 8 de janeiro de 2016, o juiz Jasiel Ivo, da 9ª Vara do Trabalho de Maceió (Alagoas), suspendeu o contrato e negou o pedido do atleta para ter condição de jogo no BID.
Na ocasião, Bismark pediu a suspensão do contrato alegando que o clube cearense não recolheu o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) em 2015 e que havia recebido uma proposta de trabalho de um time local. Depois dessa decisão, Bismark assinou um contrato com o Santa Rita, clube de Alagoas que pertence aos familiares de Gustavo Feijó, um dos oito vice-presidentes da CBF.
O Santa Rita é investigado pela Delegacia de Defraudações do Rio de Janeiro por ter servido de ponte para a saída de Bismark para o exterior. O jogador nunca defendeu o clube, que é apontado no BID da CBF como o repassador do atleta para o exterior. A negociação rendeu 120 mil dólares (R$ 485 mil na cotação da época) para o time de Alagoas.
Os advogados do Palmácia alegam que houve adulteração ilegal no sistema da CBF para permitir a transferência do atleta do Santa Rita para o Najran, da Arabia Saudita. A delegacia apura se há indícios de fraude, estelionato, falsidade ideológica, tráfico de influência e aliciamento de atleta no caso.
A cronologia do caso é a seguinte:
- 8 de janeiro de 2016: a 9ª Vara do Trabalho de Maceió suspende o contrato do jogador com o clube cearense.
- 14 de janeiro de 2016: a CBF e a Federação Cearense de Futebol publicam a rescisão do contrato de Bismark.
- 14 de janeiro de 2016: Bismarck assina com o Santa Rita-AL.
- 16 de janeiro de 2016: a CBF registra o empréstimo do jogador para o clube saudita.
- 18 de janeiro de 2016: o contrato do atleta com o Santa Rita é publicado no BID.
- 18 de janeiro de 2016: a CBF emite a transferência do jogador para o time do exterior.
Perícia no BID foi feita por três policiais
No documento da Polícia do Rio enviado ao Judiciário do Ceará, o inspetor afirma que “há explícito conluio para se transferir de forma fraudulenta o jogador”. Segundo os três peritos que investigaram o sistema da CBF, o BID, ferramenta que serve como uma espécie de cartório, pode ser alterado.
Na perícia realizada em 2017, eles dizem que “cabe ressaltar que o banco de dados (SQLSERVER), assim como o seu administrador (DBA), são ativos da referida empresa, de modo que utilizando-se diretamente os mesmo, pode-se realizar qualquer alteração dos dados sem o consentimento do sistema”. A perícia foi anexada ao inquérito, que permaneceu engavetado até este ano, quando o Judiciário cearense pediu respostas sobre o andamento do caso. A polícia, então, produziu um relatório no dia 6 de junho.
No documento, os peritos informaram que o trabalho foi acompanhado pelo diretor de tecnologia da CBF, Fernando França. No final, eles concluíram que “uma equipe de informática devidamente capacitada poderia modificar todo o sistema e apagar os rastros dos dados, de maneira a impossibilitar a detecção de vestígios por parte da Perícia Criminal”.
Antes da perícia, em depoimento na delegacia, o diretor de Registro e Transferência da CBF, Reynaldo Buzzoni, negou que o sistema poderia ser fraudado.