O que levou o Botafogo a ser o primeiro time rebaixado no Campeonato Brasileiro de 2020?
Fonte: GE
Edição: Rafael Cruz
GE elenca fatos e momentos que comprometeram a campanha e resultaram na terceira queda do clube para a Série B
O Botafogo pode brigar pelo que neste Campeonato Brasileiro? A resposta para a pergunta feita inúmeras vezes no início da competição não previu uma realidade tão amarga 34 rodadas mais tarde. A defesa sempre foi de que o elenco não se encaixava entre os piores do Brasil e que seria possível fazer um campeonato tranquilo para garantir uma vaga na Sul-Americana.
A terceira queda do clube à segunda divisão nacional foi confirmada na noite desta sexta-feira, quando o Botafogo foi derrotado pelo Sport por 1 a 0 no Estádio Nilton Santos.
O Botafogo só conseguiu quatro vitórias em 34 jogos pelo Brasileirão. O time acumulou 18 derrotas e 12 empates no campeonato. Fez 28 gols e sofreu 53.
A tranquilidade nunca foi um fato para o Botafogo. E o fim trágico, na lanterna da competição, pode ser explicado por alguns momentos que comprometeram o resultado ao longo dos últimos meses. O ge listou o top 5:
1. Demissão de Lazaroni
A frequente troca no comando técnico do Botafogo foi, de fato, um agravante para o desempenho do time, mas uma mudança merece o top 1, a demissão de Bruno Lazaroni. Efetivado treinador no dia 1 de outubro, o até então auxiliar permanente da comissão técnica durou apenas 28 dias no cargo, mesmo tendo um dos melhores aproveitamentos entre os comandantes do time na temporada.
Das quatro vitórias que o Botafogo conquistou até o momento no Brasileirão, duas foram sob o comando de Lazaroni. Foram seis jogos, com duas vitórias, dois empates e duas derrotas – 44,4% de aproveitamento.
A forma como aconteceu a demissão expôs a falta de profissionalismo dos dirigentes. O motivo da decisão teria sido a derrota para o Cuiabá pelo jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil. Lazaroni não teve a chance de tentar se recuperar na volta muito em função da escalação de um jogador específico, o volante Cícero, que não contava com o prestígio do comitê executivo de futebol.
Como se deu a saída do técnico?
- Comitê não aprovou a escalação do jogo com o Cuiabá, principalmente a utilização de Cícero, e já no intervalo da partida avisou ao gerente de futebol Túlio Lustosa da decisão de não permanecer com o treinador;
- Túlio e outros dirigentes defenderam a permanência de Lazaroni e tentaram, em vão, fazer com que os membros do comitê mudassem de ideia;
- Botafogo convidou, e Bruno aceitou voltar a ser auxiliar técnico;
- Na noite após a demissão, Carlos Augusto Montenegro deu entrevista coletiva e expôs os motivos da saída de Lazaroni: “A falta de ânimo, a mesma escalação, isso me incomoda. Não teve nada de diferente, foi patético”;
- O profissional voltou atrás e pediu o desligamento do clube no dia seguinte.
Depois disso, o Botafogo caiu de vez no Brasileirão e teve apenas uma vitória nos 17 jogos seguintes até ser confirmada a queda para a Série B.
2. Trocas de técnico
O top 2 é um complemento do primeiro: a demissão de Lazaroni é marcante, mas, no geral, as trocas no comando do time ao longo do último ano foram problemáticas e refletiram no desempenho dos jogadores. O principal problema é que o Botafogo caminhou para a reta final do campeonato sem padrão de jogo e nenhuma convicção sobre o futebol que joga.
Foram cinco técnicos na temporada 2020, sendo quatro no Campeonato Brasileiro. A primeira demissão aconteceu ainda no Campeonato Carioca, em fevereiro, com a saída de Alberto Valentim, treinador que ajudou a pensar o planejamento e a montar o elenco. O episódio não surpreendeu, já que meses antes Carlos Augusto Montenegro, em áudio vazado, adiantou que não gostava da ideia de manter Valentim para o ano seguinte.
Em poucos dias, Paulo Autuori assumiu o elenco e se firmou no comando do Botafogo. Técnico que mais durou na gestão de Nelson Mufarrej, ao lado de Zé Ricardo, Autuori foi quem fez o time jogar melhor na temporada. O excesso de empates no início do Brasileirão incomodou e esgotou jogadores e treinador, que saiu no dia 1 de outubro.
Não foi só com treinadores: o Botafogo também promoveu um carrossel no elenco com muitas contratações e ao colocar em campo 56 jogadores nessa temporada.
A opção do comitê de futebol foi efetivar Bruno Lazaroni, demitido 27 dias depois, como citado acima. Os dirigentes estavam cientes da falta de experiência e, mesmo assim, não tiveram paciência para sustentar a decisão tomada no início do mês.
Sem tempo a perder para buscar o novo comandante, o Botafogo perdeu tempo enquanto o preparador de goleiro Flavio Tenius treinava a equipe. Depois de algumas tentativas e negociações fracassadas, o clube fechou com o argentino Ramón Díaz, que foi dispensado antes mesmo de assumir. Enquanto se recuperava de uma cirurgia, ele foi substituído pelo filho e auxiliar Emiliano Díaz, que perdeu os três jogos em que esteve no comando.
O clube então, vendo a confusão que se criou e a derrocada no Brasileirão, optou novamente pela solução caseira e trouxe Eduardo Barroca de volta. Desde então, são dez derrotas, um empate e uma vitória – aproveitamento de 11,1%.
Os 5 técnicos do Botafogo em 2020:
- Alberto Valentim: 3 vitórias / 1 empates / 3 derrotas = 48% de aproveitamento
- Paulo Autuori: 6 vitórias / 13 empates / 2 derrotas = 45% de aproveitamento
- Bruno Lazaroni: 2 vitórias / 2 empates / 2 derrotas = 44% de aproveitamento
- Ramón Díaz: 3 derrotas = 0% de aproveitamento
- Eduardo Barroca: 1 vitória / 1 empates / 10 derrotas = 11% de aproveitamento
3. Contratações sem critério
Vinte e cinco. Esse é o número de reforços contratados pelo Botafogo na temporada 2020. Desses, seis já deixaram o clube e outros dois estão afastados e não disputam mais o Brasileirão.
Cinco deles têm status de titular: Kevin, Victor Luis, Zé Welison, Bruno Nazário e Pedro Raul. Rafael Forster e Matheus Babi foram frequentemente utilizados. Três têm contrato encerrando em fevereiro e devem sair, com exceção de Guilherme, que terá sua situação analisada. Outros são alvos de acordos para encerrarem a passagem por General Severiano.
Apesar da lista imensa de contratados, quem mais correspondeu foram crias da base. Caio Alexandre é o recordista de jogos na temporada, com 48. No Brasileirão, quem mais entrou em campo foi Kanu: 33 vezes.
Mesmo com tantas contratações, o Botafogo sentiu falta de zagueiros, laterais, meias e atacantes ao longo da temporada. O clube perdeu seus dois principais pontas de velocidade – Luiz Fernando e Luis Henrique – e não conseguiu repor com os nomes buscados no mercado.
As 25 contratações do Botafogo em 2020:
- Zagueiros: Ruan Renato (já deixou o clube) e Rafael Forster
- Laterais-direitos: Barrandeguy, Kevin e Gustavo Cascardo
- Laterais-esquerdos: Guilherme Santos, Danilo Barcelos (já deixou o clube) e Victor Luis
- Volantes: Thiaguinho (já deixou o clube), Luiz Otávio, Carlos Rentería (afastado) e Zé Welison
- Meias: Bruno Nazário, Honda (já deixou o clube), Gabriel Cortez (já deixou o clube), Éber Bessa (já deixou o clube) e Cesinha
- Atacantes: Pedro Raul, Matheus Babi, Kalou, Davi Araújo, Lecaros, Warley, Kelvin (afastado) e Angulo
4. Aproveitamento como mandante
O Botafogo é o pior mandante do Campeonato Brasileiro e conseguiu apenas duas vitórias atuando no Nilton Santos. Além do triunfo em cima do Palmeiras, em 7 de outubro de 2020, a outra foi bem no início do campeonato, na quarta rodada, quando derrotou o Atlético-MG também por 2 a 1. Soma ainda cinco empates e dez derrotas.
Em casa, o Botafogo viveu momentos que explicam a queda para a Série B. Nas 21ª e 22ª rodadas, o time teve dois jogos em sequência no Nilton Santos contra adversários diretos na parte de baixo da tabela: perdeu para Bragantino e Fortaleza, respectivamente. A situação se repetiu nas 27ª e 28ª rodadas, quando teve a chance de continuar reação após vitória fora sobre o Coritiba, mas foi derrotado por Corinthians e Athletico-PR no Rio.
A campanha ruim no Nilton Santos tem o episódio mais triste da temporada: o rebaixamento foi confirmado com nova derrota em casa na noite da última sexta.
O aproveitamento não é só o pior entre os times desta edição, mas é a pior campanha do Botafogo como mandante desde 2006, quando o campeonato passou a ser disputado com 20 times. Em 2014, quando também foi rebaixado, o clube teve oito vitórias, cinco empates e seis derrotas em casa.
5. Desânimo e falta de comprometimento
Marcou também a campanha do rebaixamento a clara falta de comprometimento de alguns jogadores do elenco com o momento delicado da equipe. No dia 9 de dezembro, na goleada sofrida para o São Paulo em jogo adiado da 18ª rodada, o ge trouxe um panorama do clima no vestiário: acomodação e pouca indignação, o que levou os dirigentes a iniciarem ações de motivação.
Sem reação: o Botafogo acumulou duas sequências de 10 jogos sem vencer. A pior foi entre as rodadas 16 e 25, com oito derrotas e dois empates.
Em vão. Rodada após rodada o time continuou a jogar a toalha e a se acostumar com os resultados negativos. Eduardo Barroca tentou inúmeras alterações, mas não conseguiu a resposta que esperava, a não ser nos jogos contra Internacional (derrota) e Coritiba (vitória). Faltou vontade e entrega.
Com o time na zona de rebaixamento e acumulando derrotas em sequência, jogadores foram flagrados em baladas, mesmo em meio à pandemia, enquanto outros chegavam atrasados para os treinos. Depois de tentar resolver internamente, o Botafogo divulgou episódios de indisciplina nos últimos dias e mudou a escalação. Mas já era tarde