CONJUNTIVITE – CAUSAS, TRANSMISSÃO E TRATAMENTO
Por: Villian Nunes
O QUE CONJUNTIVITE?
A conjuntivite é a doença ocular causada pela inflamação e/ou infecção da conjuntiva, a fina membrana que recobre parte dos nossos olhos. Existem várias causas de conjuntivite, incluindo infecções, alergias, irritações por substâncias e até neoplasias.
Os principais sintomas da conjuntivite são os olhos vermelhos, dor e lacrimejamento.
Neste artigo vamos explicar o que é a conjuntivite, quais são as suas principais causas, sintomas, formas de transmissão e opções de tratamento. Vamos explicar também quais são as diferenças entre as conjuntivites bacterianas, virais e alérgicas.
O QUE É A CONJUNTIVA?
A conjuntiva é uma fina membrana transparente que recobre a região frontal do globo ocular, que é a parte branca do olhos ao qual damos o nome de esclera. Essa membrana também recobre a porção interna das pálpebras superior e inferior.
A conjuntiva é altamente vascularizada; aqueles pequenos vasos sanguíneos que conseguimos ver nos olhos não estão exatamente no globo ocular, mas sim na conjuntiva. Em condições normais, conseguimos ver alguns poucos microvasos sanguíneos, tanto sobre a esclera como na região interna das pálpebras.
A foto acima mostra uma conjuntiva saudável. Reparem que apesar dos vasos serem facilmente identificáveis, a esclera encontra-se bem branquinha e a parte interna das pálpebras estão rosadas.
Quando a conjuntiva inflama-se, a situação muda completamente. Os minúsculos vasos tornam-se muito proeminentes, o que provoca o característico aspecto de olhos vermelhos da conjuntivite. A região interna das pálpebras deixa de ser rosada e torna-se também bem avermelhada.
CAUSAS
Existem basicamente três tipos de conjuntivite:
- Conjuntivite viral.
- Conjuntivite bacteriana.
- Conjuntivite alérgica.
Existem também outras formas de conjuntivites, como aquelas de origem neoplásica, irritação provocada por lentes de contato ou induzida por alguma substância (xampu, cloro de piscina, fumaça, sujeira, medicamentos, etc.). Neste artigo, porém, vamos nos ater às formas bacteriana, viral e alérgica.
É a forma mais comum de conjuntivite, normalmente causada por um vírus chamado Adenovírus. Pode vir acompanhada por outros sintomas de virose, tais como febre, dor de garganta e sinais de infecção respiratória, semelhantes a um resfriado.
A conjuntivite viral é extremamente contagiosa, sendo transmitida através de mãos contaminadas por secreções oculares. A conjuntivite viral é tão contagiosa que se um paciente coçar os olhos e tocar em um objeto, outras pessoas podem se contaminar através deste.
Ao contrário do que muita gente pensa, a conjuntivite não costuma ser transmitida pelo ar. Ao ver uma pessoa com conjuntivite, você não precisa sair correndo para longe dela. Basta que não tenha contato direto com ela ou com objetos manuseados pela mesma. Contudo, se o indivíduo contaminado apresentar também sintomas respiratórios, como espirros e tosse, a conjuntivite pode, sim, ser transmitida pelo contato com essas secreções.
O quadro de conjuntivite viral normalmente começa em um dos olhos, transmitindo-se para o outro 24 a 48 horas depois. A conjuntivite viral é auto-limitada, curando-se sozinha após 7 a 10 dias, sem necessidade de tratamento específico. O período de contágio costuma durar todo o tempo em que o olho permanece vermelho.
Conjuntivite bacteriana
A conjuntivite bacteriana é bem menos comum que a conjuntivite viral, sendo normalmente causada por uma destas cinco bactérias:
- Staphylococcus aureus.
- Streptococcus pneumoniae.
- Haemophilus influenzae.
- Moraxella catarrhalis.
- Pseudomonas aeruginosa.
A transmissão da conjuntivite bacteriana se dá da mesma maneira que a conjuntivite viral, ou seja, através do contato com secreções contaminadas. Na forma bacteriana, porém, espirros e tosse são pouco comuns e a transmissão acaba ficando restrita mesmo ao contato pessoal. Partilhar toalhas e dividir a mesma cama são situações de elevado risco.
É bom salientar que apesar dos sintomas da conjuntivite serem quase que exclusivamente oculares, a bactéria ou vírus podem estar por toda a pele, sendo possível a contaminação das suas mãos com um simples contato com a roupa da pessoa infectada.
Ao contrário da forma viral, a conjuntivite bacteriana precisa de colírios com antibióticos para melhorar (falarei sobre o tratamento mais à frente).
Conjuntivite alérgica
A conjuntivite alérgica ocorre quando os olhos entram em contato com alguma substância presente no ar que cause irritação. A inflamação da conjuntiva ocorre por uma reação alérgica a uma destas substâncias, que podem ser, por exemplo, pólen, poeira, pelos de animal, mofo, etc.
A conjuntivite alérgica não é transmissível. Quem tem conjuntivite alérgica não precisa se ausentar da escola ou do trabalho. Também não é necessário separar toalhas, talheres ou roupas de cama.
A forma alérgica se difere da bacteriana e viral pelo intensa coceira ocular que causa. Muitas vezes, outros sintomas alérgicos, como espirros e coriza nasal, também estão presentes.
PREVENÇÃO
As conjuntivites virais e bacterianas são contagiosas e passam facilmente de uma pessoa para outra.
Algumas medidas ajudam a reduzir o risco de transmissão da conjuntivite. São elas:
- Não compartilhe toalhas, roupa de cama ou talheres.
- Não durma na mesma cama.
- Evite contato muito próximo, tipo abraços e beijos.
- Lavar as mãos com frequência.
- Evite coçar os olhos. Se o fizer, lave as mãos antes e depois.
- Óculos escuros ajudam na sensibilidade à luz, mas não previnem a transmissão.
Mesmo com todos os cuidados, ainda assim o contágio pode ocorrer. As conjuntivites, principalmente as virais, são muito contagiosas e, se houver contato próximo, invariavelmente a pessoa que divide o mesmo teto acaba se contaminando também.
SINTOMAS
Os primeiros sintomas da conjuntivite costumam ser ardência, lacrimejamento, sensação de areia nos olhos e “colamento” das pálpebras ao acordar. Em pouco tempo, os olhos tornam-se vermelhos e uma secreção purulenta pode surgir (excesso de remela), principalmente na forma bacteriana.
Outros sintomas comuns são a coceira nos olhos, dor, inchaço nas pálpebras e fotofobia (intolerância à luz forte). Em geral, exceto pela fotofobia, não há outras alterações na capacidade visual. O paciente sente muito incômodo nos olhos, mas continua enxergando bem.
A conjuntivite costuma iniciar-se em um dos olhos, sendo comum a contaminação do outro após alguns dias.
Muitos sinais e sintomas da conjuntivite são semelhantes, independentemente da causa. A distinção, portanto, costuma ser feita através do reconhecimento dos sinais e sintomas típicos de cada uma das formas.
- As três formas de inflamação da conjuntiva costumam causar secreção ocular. Na conjuntivite bacteriana, a secreção é tipicamente purulenta, enquanto na formas virais e alérgicas ela é mais aquosa.
- Linfonodos palpáveis na região posterior das orelhas costumam estar presentes nas formas virais e bacteriana, mas não na forma alérgica.
- Na forma viral, outros sintomas de virose costumam estar presentes, como tosse, espirros, dor de garganta e mal estar geral.
- A forma alérgica costuma acometer os dois olhos, enquanto as formas infecciosas (viral ou bacteriana) costumam começar por um olho e só depois de alguns dias atingem o outro.
Durante o exame oftalmológico também há vários sinais que ajudam o médico a identificar a origem da inflamação da conjuntiva.
Fazer o diagnóstico diferencial entre os tipos de conjuntivite não é fácil. A maioria dos médicos não oftalmologistas não sabe fazê-lo corretamente. Isto implica em uma excessiva prescrição de colírios com antibióticos para conjuntivites virais e alérgicas, que não necessitam dos mesmos.
TRATAMENTO
O primeiro passo para todo paciente com olhos vermelhos é procurar um oftalmologista. Primeiro porque várias doenças oftalmológicas, que não a conjuntivite, podem causar olhos vermelhos. Segundo porque a distinção entre conjuntivite viral, alérgica ou bacteriana é importante, não só no tratamento, mas também na indicação de afastamento temporário da escola ou do trabalho.
Quem usa lentes de contato, deve evitá-las até o desaparecimento dos sintomas.
Nunca se automedique. Existem colírios específicos para cada tipo de conjuntivite. Alguns possuem anti-inflamatórios, outros antibióticos e ainda há os colírios com antialérgicos.
De modo geral, indica-se lavar os olhos frequentemente com soro fisiológico frio (deixe o frasco guardado na geladeira). Se o seu olho amanhecer inchado, pode-se fazer compressas de soro gelado para diminuir o inchaço.
É essencial lavar as mãos com frequência, principalmente antes e depois de tocar nos olhos.
Usar óculos escuros ajuda a diminuir a fotofobia (sensibilidade à luz).
Em casos mais sintomáticos, com dor relevante, pode-se usar colírios à base de anti-inflamatórios ou anti-inflamatórios em comprimidos.
É comum encontrarmos pacientes com conjuntivite viral usando “colírios para conjuntivite”, que na verdade são medicamentos fortes, alguns desnecessariamente contendo antibióticos em sua fórmula. Esses colírios muitas vezes são equivocadamente prescritos por médicos generalistas ou pediatras.
Conjuntivite bacteriana
Nos casos de conjuntivite bacteriana, colírios com antibióticos apropriados devem ser usados por 7 a 10 dias.
O diagnóstico de conjuntivite bacteriana deve ser sempre feito por um oftalmologista. Essa forma de conjuntivite é a menos comum e é a única que deve ser tratada com antibióticos.
Conjuntivite alérgica
Para os casos de conjuntivite alérgica é necessário identificar a causa da alergia e usar colírios específicos para alergia. Existem algumas opções no mercado e a melhora costuma ser rápida.
REFERÊNCIAS
- Conjunctivitis – UpToDate.
- Conjunctivitis: What Is Pink Eye? – American Academy of Ophthalmology.
- Conjunctivitis PPP – 2018 – American Academy of Ophthalmology.
- Antibiotics versus placebo for acute bacterial conjunctivitis – The Cochrane database of systematic reviews.
- Conjunctivitis (Pink Eye) – Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
- Facts About Pink Eye – The National Eye Institute (NEI).
Este artigo foi escrito em co-autoria com o Dr. Renato Souza Oliveira, oftalmologista especializado em doenças da córnea, com predileção pela cirurgia de catarata e tratamento do Ceratocone.