Quase seis meses de portas fechadas, escolas particulares no Pará beiram a falência
Entidade representativa do setor aponta ainda uma inadimplência de 75% nas mensalidades escolares ao longo deste ano
Caminhando para os seis meses de portas fechadas, algumas escolas particulares no Pará estão beirando a falência. Outras estão recorrendo às linhas de crédito para manter a folha de pagamento em dia e, ainda, reestruturar os espaços com as medidas sanitárias para voltar à ativa, mesmo com a data do retorno incerta. Ainda é cedo para mensurar quais serão os verdadeiros impactos econômicos provocados pela pandemia no setor no Estado, no entanto, a entidade representativa do segmento já aponta uma inadimplência de 75% nas mensalidades escolares ao longo deste ano.
Apesar das instituições terem entrado em acordo com os pais ou responsáveis com descontos nas mensalidade neste período de quarentena, elas enfrentam, além do alto índice de inadimplência, a descontinuidade de contrato, sobretudo, nas fases iniciais de ensino, com crianças de 4 a 10 anos de idade.
O presidente da União das Escolas Particulares do Pará (Unesc), Marcelo Ferreira, vê com preocupação o futuro dos 72 estabelecimentos que representa no Estado. “Há uma variação de escola, de faixa etária, mas muitos pais estão tirando as crianças do colégio, suspendendo os contratos, sem falar na inadimplência que já beira 75% em algumas instituições. As escolas de bairro estão fechando as portas. Conheço gente que está saindo de suas casas e indo morar na escola porque deixou de pagar o aluguel da sua própria casa. Nós estamos enfrentando um momento crítico, com muitas dificuldades”, observou.
O professor, que também é proprietário de uma escola em Belém, explica que, na educação infantil, a evasão escolar é mais evidente. “Os pais estão com medo de mandar as crianças para a escola e estão tirando seus filhos. Já outros, passam por problemas financeiros e não estão pagando”, comentou. Mesmo com as aulas presenciais suspensas, as unidades estão dispondo do calendário anual com aulas online, assim, pagando os professores e investindo em plataformas de ensino.
“Estamos fazendo empréstimos, vendendo carros, bens, para pagar os professores que estão trabalhando. O investimento para reestruturar as escolas são altos também, com as medidas sanitárias que tivemos de adotar. Hoje, não temos nenhuma linha de crédito específica para a categoria”, lamentou Marcelo.
Retorno
Há uma sinalização da Prefeitura de Belém de que as aulas presenciais retornem, gradualmente, a partir do dia 14 de setembro na capital, contudo, a data deve passar por uma avaliação do governo do Estado. O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Pará (Sinepe/PA) garante que as instituições passaram por um protocolo sanitário com altos investimentos para voltar às atividades.
“A despesa com as medidas são altas, elas variam de acordo com o tamanho da escola, e de uma série de fatores na infraestrutura do espaço”, explicou a presidente do Sinepe, Beatriz Padovani.
A entidade não estima o número dos prejuízos financeiros que as escolas estão tendo, mas adianta: “a evasão escolar é grande, a inadimplência também. Muitos professores foram demitidos, e outros com o contrato suspenso. Há escolas que já fecharam, a situação do setor está difícil. Estamos tendo de recorrer às linhas de créditos para manter as despesas e as portas abertas”, comentou. A entidade está em constante conversa com o governo do Estado e articula, para os próximos dias, uma audiência com o governador Helder Barbalho.
Evasão
A estilista Antônia França, de 30 anos, mantinha dois filhos na escola. Com a pandemia, e tendo de fechar sua loja de roupas por um período, teve de tirar o caçula da instituição. É que devido à baixa no faturamento, ela não pôde continuar pagando as duas mensalidades que pesam cerca de 30% no orçamento familiar. “Recebemos 15% de desconto na mensalidade, mas pesa muito na despesa, e tiramos o de 4 anos, por uma série de fatores, incluindo o financeiro. A despesa com ele saindo caiu uns 15%”, comentou.
Antônia substituiu as mensalidade pelo pagamento de uma professora particular. “Pago R$ 50 a hora/aula. Tem sido mais satisfatório. Quando as aulas presenciais voltarem, vamos matriculá-lo novamente. O mais velho, de 5 anos, está normalmente assistindo as aulas da escola”, disse.
A comerciante Ana Carina Morgado, de 34, não tirou o filho de 5 anos da escola, mas, confessa que a despesa está alta. “Pago a babá e as aulas. Tive 20% de desconto e, mesmo assim, pesa no orçamento. Ele está no Jardim II, e assistir aula em casa, pelo computador, é um pouco complicado. Entendo muito o lado da escola, a questão financeira e o pagamento dos professores. A pandemia pegou todos de surpresa”, observa.
A rede privada de ensino atende cerca de 400 mil estudantes em todo o Estado e está com as atividades presenciais suspensas desde 18 de março, em todos os seus níveis, etapas e modalidades educacionais.
Posicionamento
A Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semec) informou, através de nota, que “aguarda nova avaliação do Comitê Municipal de Operações de Emergência e Saúde Pública (Coes) que garanta um retorno seguro das aulas presenciais previstas para o dia 14 de setembro. A Semec ainda informa que a rede de ensino já está preparada com os protocolos sanitários para o retorno por meio de um sistema híbrido com espaços desinfectados, tapete sanitizante, dispensers de álcool em gel e pias com água e sabão, e distribuição de máscaras para alunos e professores”
Segundo o protocolo, as escolas devem alternar horários de entrada e saída das turmas; ter esquemas diferenciados para os intervalos; estabelecer regras para o uso dos sanitários e fazer sinalizações visíveis para garantir o distanciamento mínimo entre as pessoas.
O protocolo também prevê a suspensão de atividades em bibliotecas, ginásios, teatros ou auditórios; utilização de máscaras de forma correta (cobrindo boca e nariz); evitar cumprimentos com beijos e abraços; não compartilhar objetos de uso individual; nos laboratórios, usar todos os equipamentos de segurança e fazer a desinfecção do ambiente a cada duas horas; e estabelecer, sempre que necessário, protocolos de biossegurança específicos para laboratórios, ambulatórios e clínicas de saúde.
A reportagem entrou em contato com o governo do Estado e aguarda retorno.
Bares – Além das escolas, os bares estão proibidos de funcionar em Belém. Entretanto, o que observamos é que muitos destes estabelecimentos voltaram às atividades como restaurantes. Sobre as fiscalizações, a Prefeitura informou que o Comitê de Segurança Municipal realiza fiscalizações diuturnamente, orientando, notificando e, quando necessário, aplicando multa à pessoas físicas e jurídicas.
Fazem parte do Comitê a Ordem Pública, Guarda Municipal de Belém (GMB), Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob), Secretaria Municipal de Saneamento, Economia e Vigilância Sanitária.