Riscos em casa
A professora Annelise Batista D’Angiolella, doutora em zoologia, que atua na Ufra, no campus Capitão Poço, nordeste do Pará, no Brasil, alerta que trazer animais exóticos para cativeiro é um risco em potencial na região, pois, como não é nativo da região, pode representar fuga dos animais que nela vivem.
“Como esse animal não tem uma história evolutiva na nossa região, ele não tem predadores, então, as populações aumentam absurdamente. Assim, não tem controle populacional e eles acabam competindo com recursos, locais e alimentos com as nossas espécies nativas. Alguns têm potencial invasor tão agressivo que acabam excluindo as nossas espécies nativas e se proliferam nesses locais”, explica.
Ainda segundo a doutora, isso tudo provoca a homogeneização biótica, que leva à perda da diversidade da região. “É quando as espécies nativas são mais exigentes e precisam de recursos mais diferenciados, mas são excluídas de determinado local por conta das espécies exóticas e as espécies que ficam ali, além da espécie exóticas, são as nativas, chamadas de generalistas, que não têm necessidade por recursos diferenciados e toleram condições ambientais variáveis, fatores físicos mais extremos, como alta temperatura e luminosidade. Com isso, temos perda da nossa biodiversidade”.
Todavia, a introdução de espécies exóticas é um dos maiores problemas à biodiversidade em outros países também, como Austrália, Ásia e EUA. Porém, no Brasil isso é um pouco pior, “porque ainda temos biomas que possuem grandes espécies nativas e endêmicas restritas desse locais e acabam sofrendo com a introdução de espécies”, destaca a doutora D’Angiolella.
A doutora em Zoologia enfatiza também que, no caso de serpente exótica, a situação é bem pior, uma vez que não há produção de soro antiofídico para todas as espécies do Brasil nem às espécies de outra região.
“No Brasil, temos soro antiofídico para os grupos das espécies nativas perigosas para o homem, porque podem causar acidentes e podem levar à morte. São elas as jararacas, surucucu, pico de jaca, cascavel e coral. Quando traz espécie de serpente, não nativa da região, e é peçonhenta e não produzimos o soro para ela, se acontecer algum acidente, o problema é sério porque como vai neutralizar a ação do veneno, se não há produção de soro antiofídico para essa serpente? No caso do Distrito Federal, por sorte, o Instituto Butantan tinha o soro que é utilizado com tratadores, que salvou o rapaz. Na região Amazônica, cerca de 90% dos acidentes mais comuns com serpentes ocorrem com a jararaca da Amazônia”, afirma a doutora Annelise Batista D’Angiolella.
Além do mais, ela informa que a fabricação de soro antiofídico não é um investimento barato.O Ministério da Saúde adquire toda a produção de antivenenos dos quatro produtores nacionais: Instituto Butantan, Instituto Vital Brazil, Fundação Ezequiel Dias e Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos. O soro antiofídico é produzido a partir de anticorpos produzidos por cavalos, com a utilização do plasma sanguíneo, como explica a professora Annelise Batista D’Angiolella, doutora em Zoologia e professora na Ufra.
Criação em cativeiro deve ser autorizada pelo Ibama
A doutora Annelise Batista D’Angiolella esclarece que a criação de animais silvestres em cativeiro deve ser respaldada mediante autorização do órgão ambiental competente, que é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No Brasil, existem quatro tipos de criadouros de animais (conservacionista, científico, comercial e parque zoológico), sendo que cada um deles está sujeito a uma legislação específica que regulamenta o uso da fauna silvestre de maneira sustentável.
O artigo 29, da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, a Lei de Crimes contra o Meio Ambiente, seção 01, crimes contra a fauna, estabelece que “matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a licença obtida gera pena – com detenção de seis meses a um ano e multa.
Já o artigo 31 da mesma lei estabelece que “introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente, acarreta em pena de três meses a um ano, mais multa”.
Veja os riscos de animais exóticos em cativeiro:
– Espécies exóticas representam uma ameaça a ecossistemas, habitats e espécies nativas;
– Propagação de doenças;
– Pode acarretar na perda da biodiversidade devido à extinções de espécies nativas;
– Danos à economia devido à destruição de culturas e áreas florestadas.
Cuidados ao se deparar com uma serpente:
– Na dúvida, não mexa;
– O melhor ainda é tentar manter a distância;
– Pedir ajuda a profissionais capacitados no manejo;
– Caso esses animais sejam encontrados, acionar o Corpo de Bombeiros e o Batalhão de Polícia Ambiental;
– Eles são órgãos capacitados para fazer o resgate de animais silvestres.
– Se estiver em área de mata, por exemplo, é importante andar com calça comprida e sapato fechado;
– Além de evitar sentar perto da vegetação;
– Se encontrar um animal morto, avisar os órgãos competentes, para que o animal seja recolhido para identificação e conservação;
– Nunca mate uma serpente.
Fonte: Ufra.
Em caso de acidente
Caso uma pessoa seja picada por uma serpente, é preciso:
– Lavar o local da picada apenas com água ou com água e sabão;
– Manter o paciente deitado;
– Manter o paciente hidratado;
– Procurar imediatamente um serviço médico mais próximo*;
– Se possível, levar o animal para identificação;
– Não cortar o local da picada;
– Não perfurar ao redor do local da picada;
– Não colocar folhas, pó de café ou outros contaminantes;
– Não beber bebidas alcoólicas, querosene ou outros tóxicos.
– Não fazer torniquete ou garrote, pois:
* O veneno das jararacas e surucucus têm propriedades proteolíticas e hemorrágicas, que levam ao sangramento e destruição dos tecidos, e ajudam na digestão de suas presas.
* Ao amarrar o local, para evitar que o veneno circula, está concentrando-o no membro atingido, fazendo com que essas ações sejam potencializadas, provocando necrose e, muitas vezes, amputação do membro em casos mais graves.
– No site Ministério da Saúde existe a lista de hospitais no Brasil e no Pará, por região e município, que realizam atendimento com soroterapia para Acidentes com Animais Peçonhentos. Acesse aqui os locais do Pará