Russos prometem vacina para novembro

Russos prometem vacina para novembro

Os especialistas do Instituto Gamaleya de Pesquisa em Epidemiologia e Microbiologia, em Moscou, informaram na quinta-feira, 20, em coletiva com mais de 300 jornalistas de todo o mundo, que a vacina russa estará pronta para ser exportada em novembro. Confirmaram também que já negociam com o Brasil e outros países uma parceria para sua produção em alta escala.

O imunizante tem sido visto com desconfiança pela comunidade científica, pela falta de transparência sobre os testes e pela rapidez das pesquisas. “Estamos conversando com outros países, como Índia, Brasil, Coreia do Sul e Cuba”, afirmou Alexander Gintsburg, diretor do Gamaleya, onde a vacina SputnikV foi desenvolvida. “Eles têm potencial para produzir e para servir de “hub”, de base, para a distribuição da vacina.” Segundo Gintsburg, a prioridade dos russos é negociar com países que tenham capacidade para produzir o imunizante – mas há planos, também, de exportá-la.

A tecnologia usada engloba dois tipos de adenovírus humanos (que não causam nenhuma doença) que servem como vetores para levar para dentro do organismo fragmentos genéticos de uma proteína da coroa do Sars-Cov2. A vacina é administrada em duas doses, com intervalo de 21 dias. Os russos acreditam que ela poderá oferecer imunidade por dois anos.

O governo do Paraná assinou um protocolo de intenções com representantes do governo russo para participar das testagens da fase 3 da vacina e, eventualmente, também na produção do imunizante. O governo da Bahia também discutiu uma possível parceria. A Anvisa informou, no entanto, que “até o momento o laboratório russo não apresentou nenhum pedido de autorização ou de registro da vacina”.

A Sputnik V obteve um registro provisório do governo de Vladimir Putin na semana passada, mas foram recebidas com críticas da comunidade científica mundial porque não estariam cumprindo as etapas exigidas. Até agora, os russos não publicaram sequer os estudos referentes às fases 1 e 2 dos testes, que deverão ser apresentados à Anvisa em caso de testagem no Brasil. Na entrevista, os cientistas afirmaram que o estudo será publicado em uma grande revista científica ainda este mês. “Não se trata de preconceito”, disse o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha. “Temos várias vacinas sendo desenvolvidas. Só estamos receosos de que não sejam cumpridas as etapas usuais.”

A Organização Mundial da Saúde disse estar em contato com autoridades russas para receber e analisar os dados, mas a vacina não está entre as nove já incluídas na iniciativa Covax, que visa à compra coletiva e distribuição da imunização. “Estamos vivendo uma situação atípica em que vários avanços estão sendo feitos muito rapidamente e muitos laboratórios não publicaram dados ou publicaram dados parciais”, constatou o especialista em vacinas da UFMG Flávio Guimarães. “Mas os russos levaram isso a um patamar extremo, em que não apresentaram nenhum estudo e dizem que têm o registro da vacina, pulando a fase 3.” Segundo Denis Logunov, vice-diretor do Instituto Gamaleya, a vacina foi testada em vários animais, como porquinhos da índia, coelhos, ratos e macacos, sem apresentar nenhum efeito colateral. Posteriormente, informou, foi testado também em um grupo de 220 voluntários com idades entre 18 e 60 anos que apresentaram resposta imunológica positiva e efeitos colaterais brandos, como dores de cabeça.

Os russos explicaram que conseguiram chegar tão rapidamente a uma vacina porque estavam trabalhando num outro imunizante semelhante, contra a Mers – a Síndrome Respiratória do Oriente Médio, causada também por um coronavírus.

“Com base no fato de que a plataforma de adenovírus já foi usada antes em 20 mil pessoas, conseguimos o registro, que nos permite produzir a vacina para grupos de risco”, disse Logunov. “Mas somos obrigados a fazer mais ensaios, já acordamos um protocolo de 40 mil pessoas para checar o grau de eficácia. Teremos, então, o registro definitivo, e poderemos começar a produção em massa.”

Instituto Gamaleya já negociam com o Brasil e outros países uma parceria para sua produção

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