Ver-o-Peso mantém viva a tradição do banho de cheiro de São João

Ver-o-Peso mantém viva a tradição do banho de cheiro de São João

Por: Villian Nunes

Nesta quinta-feira (24) é dia de São João e Belém exala tradição e superstições sobre os ritos especiais para este dia. Desde o dia 23, os corredores das erveiras, no mercado do Ver-o-Peso, estavam agitados com perguntas de clientes sobre as indicações de ervas e animação das vendedoras. Não há registros concretos de quando o costume começou na capital paraense, mas o que se sabe é que é que ele traz promete trazer boas energias ora quem toma, ensinamento que é passado de geração em geração.

Moradoras de Icoaraci, Cláudia Cordeiro e a filha Adriene foram ao Ver-o-Peso com um objetivo certo: as barracas das erveiras.  “Sempre que posso venho aqui pra pegar um “banhozinho” e trazer a sorte. Eu acredito que os banhos de cheiro trazem muita força, muita energia, coisas boas, esperança, força pro trabalho e saúde. É sempre que eu peço. Peço por mim e minha família. Eu já trouxe minha filha pra tomar e proteger. Em casa a gente acredita muito na força e no poder desses banhos. Às vezes eu compro aqui e faço em casa as garrafadas em casa e até revendo em Icoaraci”.

Na mesma barraca, as vendedoras  Iracilda de Olveira, 63 anos e a filha dela, Patrícia Rego, 40, dividem o conhecimento, os segredos e mistérios sobre cada uma das plantas medicinais. “Alecrim, manjericão, oriza, catinga de mulata, chama, abre caminho, pataqueira, vidicá, patichouli, priprioca, são as ervas que não podem faltar no banho de São João. Quando a gente toma, temos que pedir, felicidade, sorte com muita fé que vai dar certo pra todo mundo, porque cada planta tem uma função, mesmo as que só perfumam. Não tem uma contraindicação, faz bem pra todo mundo.”, afirma Iracilda.

“Essa tradição é muito antiga. Lembro que aprendi com minha mãe que aprendeu com a mãe dela. Antigamente, vínhamos de madrugada, virávamos a noite para dar conta das encomendas. Queria repassar esses conhecimentos para  minhas filhas, mas não se interessaram até agora e eu não posso forçar, pra trabalhar com ervas, tem que trabalhar com amor”, completa a filha de Iracilda, Patrícia Rego.

Na casa de Izabelle Araújo, 32, apreciar as festas juninas este ano tem um significado que vai além da tradição, a memória. “Hoje é uma data muito especial, porque seria o aniversário da minha mãe, que faleceu.  Ela sempre comemorava o São João com muita alegria, banho de cheiro, comidas típicas. Esse ano ela não está, mas vamos fazer como se ela estivesse. Já comprei o banho de cheiro, mas vou levar mais ervas e uma coroa. Meu irmão e eu acreditamos que essa é uma forma e manter viva a memória dela. Será de forma muito intima, mas também muito especial”, explica.

Como usar o banho de cheiro?

As erveiras explicam que para quem compra as ervas e matos cheirosos, basta lavar, tirar o excesso de terra e esfregar como se fosse uma roupa e deixar de molho na água de um dia para o outro, em um balde ou bacia, mas o ideal, mesmo é o alguidá.Um banho pronto pode render para três ou cinco pessoas. Quanto a forma de usar, os conhecimentos divergem na feira. As vendedoras indicam usar após o banho normal, mas a aposentada Maria de Lourdes Santos, 74, discorda “Pra mim, o banho de cheiro tem que vir primeiro, pra limpar, abrir caminhos, depois tomo o banho normal. Assim que meus pais me ensinaram”, explica.

Teorias à parte, a vendedora Beth Cheirosinha, 70,  garante que apesar de o ideal ser tomar o banho do dia 23 para o dia 24 de junho, a ação vale para o mês todo.

“Os mais antigos preferem fazer em casa, mas os jovens de hoje, preferem as garrafadas prontas pra não ter trabalho. Não tem problema, também temos. O  banho de cheiro pode ser tomado o mês todo, o mês todo é São João. Se quiserem, podem tomar o ano todo, as ervas não falham, podem ser encontradas o ano inteiro, tem erva pra tudo, tem pra engordar, pra emagrecer, dor de cabeça, mas também elas são usadas para simpatia pra pegar homem, chamar dinheiro….”, conta.

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